Biografias
No ano de 2023, o mundo das artes perdeu um de seus grandes nomes. José Celso Martinez Corrêa, popular Zé Celso, é uma das grandes lideranças do teatro nacional.
Sua carreira foi uma constante evolução. A construção cênica foi feita para provocar o público e os atores, trazendo a realidade política e social nas peças.
Vamos ver um pouco da trajetória dele? Siga e confira!
[José Celso Martinez, o Zé Celso. Imagem: Folha PE | Reprodução] |
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OS PRIMEIROS ANOS
José Celso Martinez Corrêa nasceu no ano de 1937, na cidade de Araraquara, estado de São Paulo. De formação acadêmica, Zé Celso estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
Lá, Zé Celso fez parte do Centro Acadêmico 11 de Agosto. Em meio ao Centro Acadêmico, um núcleo de estudantes do qual ele fazia parte fundou o Grupo de Teatro Amador Oficina.
Os primeiros textos para o Oficina eram autobiográficos. Com a direção de Amir Haddad, ganharam forma "Vento Forte para Papagaio Subir" (1958) e "A Incubadeira" (1959).
A VIDA NA ARTE E A DITADURA
Já na década de 1960, o grupo de teatro passaria por transformações e reveses. Nas mudanças positivas, veio a profissionalização e adaptações de obras estrangeiras como:
× Todo Anjo é Terrível (da estadunidense Ketti Frings) em 1962.
× Autobiografia de Thomas Wolfe, também em 1962.
× Pequenos Burgueses (do russo Máximo Gorki) em 1963.
Estávamos em vias de encerrar o periodo Liberal-Populista e começar a Ditadura Militar. Com esse contexto, as adaptações de Zé Celso faziam o paralelo desse Brazil pré golpe e da Rússia pré-revolucionária. Surgiram desempenhos emocionantes do elenco.
Em 1964, Zé Celso muda seu estilo, que antes era inspirado no dramaturgo russo Stanislavski (1863-1938) e se alinha ao formato crítico (mesmo que comedido) de Bertolt Brecht (1898 - 1956). O trabalho que demarca essa transição é "Andorra", do escritor suíço Max Frisch, que versa sobre o antissemitismo pós guerra.
Ainda nesse ano, Zé Celso viajou à Europa e estudou mais sobre Brecht. Nesse meio tempo, o Teatro Oficina esteve no Uruguai.
Dois anos após, em 1966, Zé Celso começa os ensaios de "Os Inimigos", de Gorki. A montagem seguinte foi "Galileu Galilei", de Bertold Brecht. As apresentações do Oficina se tornavam mais sensórias.
Em 1970 e nos anos seguintes, novas tendências externas entrariam no Oficina, em um intercâmbio com o estadunidense The Living Teather e o argentino Lobos. Zé Celso passa a chamar as novidades de te-ato, não mais teatro, pelo andamento em atos concretos. Nesse momento, é nítida a influência de Antonin Artaud (1896 - 1948).
Zé Celso ensaiava novos rumos e se dedicou à edição do filme "O Rei da Vela". O grupo teatral foi transformado em comunidade Oficina-Samba.
Zé Celso lançou um documento à Opinião Pública chamado S.O.S. Num contexto de ditadura militar, foi detido e torturado.
A soltura veio após vinte dias e então Zé Celso foi para o exílio em Portugal. A viagem foi com alguns membros do Oficina-Samba.
Lá em Portugal, além de algumas apresentações, dirigiu o documentário "O Parto" (1974), que falava sobre a Revolução dos Cravos (marco histórico daquele país). Em 1975, viajou para Moçambique e realizou o filme "25", que tratava da independência moçambicana.
O retorno de Zé Celso ao Brasil aconteceu em 1978. De volta a São Paulo, ele chegou com novas ideias e buscou reacender seu grupo, que foi rebatizado para Associação Teatro Uzyna Uzona.
Na década de 1980, Zé Celso dedicou-se à pesquisa cênica e a oficinas realizadas na sede do teatro. Foi um período de afastamento dos palcos.
Na década seguinte, em 1991, Zé Celso não apenas seria o diretor, mas voltaria a atuar como ator na peça "As boas", de Jean Genet (1910-1986). Contracenou com Raul Cortez (1931-1986) e com aquele que seria seu marido e cogestor do teatro, o ator Marcelo Drummond (1962).
Após a virada do milênio, nas décadas de 2000 e 2010, surgem novas releituras de peças de teatro, com incorporação de materiais autobiográficos dos membros. Esse processo recebeu o nome de Antropofagia Orgiástica ou Tragicomédiaorgya.
O IMPASSE COM SÍLVIO SANTOS
Também nos anos 2000, mais precisamente em março de 2001, a Folha de S. Paulo noticiava o impasse entre Sílvio Santos e o Teatro Oficina, representado por Zé Celso.
Sílvio Santos queria construir um shopping cultural no entorno do teatro. Zé Celso considerava que o local deveria se transformar em área pública e reclamava uma área aos fundos do teatro. Naquela época, a sede do Oficina já era tombada como patrimônio histórico.
O FIM DA VIDA
No dia 4 de julho de 2023, houve um incêndio no apartamento de Zé Celso, após um curto-circuito em um aquecedor. Estavam no apartamento, além do dramaturgo, o esposo Marcelo Drummond, Ricardo Bittencourt, Victor Rosa e o cachorro Nagô.
Todos inalaram muita fumaça e precisaram de cuidado médico. Zé Celso teve as consequências mais graves, com 53 % do corpo atingindo por queimaduras. Precisou ser sedado e entubado e veio a falecer, após todas as tentativas de recuperá-lo, no Hospital das Clínicas, em 06 de julho de 2023.
A CONTINUIDADE
O Teatro Oficina, que hoje tem a marca TEAT(R)O OFICINA, foi o local onde Zé Celso mais tempo esteve e onde foi velado. A cerimônia aconteceu das 23:00 do dia 06 até 9:00 do dia 7 de julho, com danças e apresentações, na forma de homenagem.
Os companheiros de jornada de Zé Celso ficaram. Neles está a semente que manterá o Teatro Oficina vivo.
MAIS UMA GRANDE FIGURA DAS ARTES CÊNICAS
Neusa Maria Faro, grande atriz e dubladora, também nos deixou no ano passado. Na sugestão de post da linha azul 👇🏻, relembre um pouco mais da trajetória dela:
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