Ciência & Saúde
A descoberta de uma ilha de plástico no meio
do Oceano Pacífico, ou a famosa tartaruga sofrendo com um canudo que está dentro
de suas narinas são consequências terríveis de nossa falta de cuidado com o meio
em que vivemos – seja pelas atitudes que temos, seja por o que deixamos de
fazer e tentar aprimorar. São problemas relevantes, mas que podem estar longe
de nossos olhos. Então venhamos mais perto de casa. Você já reparou como está a
saúde dos córregos e cursos d’água urbanos?
[Imagem: Solotrat]
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Em nosso país ainda não ocorreu a
universalização dos sistemas de saneamento básico que atendem as residências
com água potável e coleta com tratamento de esgoto sanitário. Assim, em algumas
cidades ainda ocorre o despejo de efluentes urbanos diretamente nesses cursos d’água,
que ficam com mau cheiro e aspecto, deixam o ambiente desagradável em suas vizinhanças
e se tornam locais propícios para o desenvolvimento de vetores de doenças, com
alta carga orgânica.
Outro problema está na qualidade da água
pluvial que ajuda a abastecer esses córregos. Quando chove, as águas carregam
toda a sorte de impurezas presente na superfície das cidades, como resquícios
de lubrificantes, fragmentos de pneus, dentre outras, sem que haja qualquer
processo natural de filtragem, visto que a recarga de água é dada por
escoamento superficial e não por infiltração, onde águas mais limpas chegam ao
lençol e freático e daí aumentam a vazão do curso d’água.
Pensando em água e esgoto podemos ter uma
ideia do que se convencionou até hoje como sendo a real função dos arroios
urbanos: despachar o que não se quer ver. No espaço natural, eles são belos e
sinuosos, variam seu traçado ao longo do tempo, formando meandros. Dentro de
nossas cidades, como somos ansiosos por gerar estabilidade em tudo, são
retificados, o que pode melhorar o aproveitamento do espaço urbano, mas provoca
assoreamentos e elevação da velocidade de escoamento.
Essa elevação de velocidade, associada aos
despejos de água pluvial em descarga rápida e com mais contaminantes, junto aos
esgotos prediais, tornam o que seria algo maravilhoso em um elemento urbano com
rosto de problema. Muitas pessoas acabam enxergando o córrego como aquela “coisa”
que transborda e alaga em dias de chuva. Mas é o contrário: é um sinal de um
conjunto se medidas erradas que vão se sobrepondo.
E se incomoda, por que não esconder? O lixo
de casa a gente esconde na lata, depois na sacola plástica e manda para algum
lugar... e deixa de ser problema nosso... será?
O município de São Paulo é um exemplo
interessante para pontuar essa ideia. Ferrovias, grandes avenidas ou rios são
elementos que podem segregar uma cidade, dependendo do contexto. Como havia a
necessidade de vias cada vez maiores, além do aproveitamento de espaço, foi-se canalizando
cursos d’água urbanos e construindo edificações e ruas sobre. Unindo-se à alta
taxa de impermeabilização do solo, o resultado é conhecido de todos, com os episódios
de inundações. Sem contar que, ao longo do tempo, diminui-se a capacidade hidráulica
dos condutos fechados onde estão escondidos os córregos.
Por todos esses motivos é que profissionais e
pesquisadores das áreas de meio ambiente, engenharia e urbanismo vêm discutindo
novas formas de pensar e redesenhar o espaço urbano e as edificações. É preciso
retomar o sentido de pertencimento à natureza e seus elementos, trazendo
novamente saúde aos córregos e espaços públicos urbanos que permitam essa
vivência. E as gerações futuras precisarão estar cientes do que hoje ocorre e
de que uma nova visão deverá nortear um futuro não apenas sustentável, mas
integrativo (há quem prefira esse termo por trazer caráter restaurador, enquanto
sustentável soa como manter o que se tem sem acrescer impactos, segundo algumas
vertentes de pesquisa).
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👉 E ainda mais
para você: A
sua casa contribui com a vizinhança (I)
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