Literatura
Quando você tira licença para fazer algo,
significa que você consegue autorização para fazer determinado ato dentro das
regras pré-existentes, podendo até quebrá-las, segundo algumas condições.
Animais são proibidos em alguns estabelecimentos, como aqueles que
comercializam alimentos. Entretanto, caso você for deficiente visual e dispor de
cão-guia, a regra não será válida justamente por sua condição.
[Imagem: UFOPA] |
Ideia semelhante ocorre com a licença
poética, que seria a escrita de textos contendo erros segundo a norma
culta da Língua Portuguesa, com algumas finalidades. Também ocorre licença
poética na criação de um ambiente que existe apenas no mundo literário. A
licença poética não justifica erros por falta de conhecimento de quem escreve,
mas é proposital em função da sonoridade, significado ou outros motivos,
ocorrendo na poesia, na literatura, na música e outras artes.
Na música, podemos citar alguns versos de “Inútil”,
interpretada pela banda Ultraje a rigor. Com o uso da licença poética, é
ressaltada a falha no sistema educacional (com erros de concordância), más
escolhas em período eleitoral, dentre outras críticas sociais:
“A gente não sabemos escolher presidente / A
gente não sabemos tomar conta da gente / A gente não sabemos nem escovar os
dente / Tem gringo pensando que nóis é indigente / Inútil / A gente somos
inútil”
Outra licença poética está no cantar de
Paula Fernandes, que, em função da rima, ignora a sílaba “ca” de boca, tornando
os versos mais sonoros:
“Diga sim e ouça o som / Prove o sabor que
tem o meu amor / Cole em mim a tua bo... / Eu te quero, sim senhor”
Em “Esquecido”, Cezar e Paulinho cantam
ressaltando 🤔... o “esquecimento”:
“Rudemente
me pediu que esquecesse de você / Mas eu sou tão esquecido que esqueci de lhe
esquecer”
O grande mestre Joaquim Maria Machado de
Assis, em sua obra “Memórias póstumas de Brás Cubas”, inicia usando e abusando
da licença poética, a começar pela sua personagem e a dedicatória:
“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes
do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.”
Exceto considerando a crença na psicografia
de Chico Xavier, não ocorreriam memórias póstumas, mas biografias por terceiros.
O ambiente realista se destaca na dedicatória aos vermes, pois o defunto-autor
não teria ninguém melhor para dedicar o livro.
Outro exemplo literário de licença poética
ocorre em “Jorge, Um Brasileiro”, de Oswaldo Franca Jr. O texto é feito de
forma contínua, com parágrafos extensos, repetições e estórias que parecem não
caminhar para um fim coeso. Porém, ao observar o conjunto da obra, podemos
perceber um narrador gente-da-gente, afoito em contar sua vida, justificando a
estrutura do texto.
Em filmes, novelas e séries de TV podemos
ver a licença poética quando pessoas de diferentes nacionalidades falam a mesma
língua e se entendem. Não é um contexto real, mas seria cansativo ver traduções
o tempo todo, caro ensinar artistas do país a falar línguas desconhecidas,
sendo mais simples dar-lhes sotaques e caracterizar com roupas. O tempo é outra
licença poética, passando mais rápido ou devagar e se ajustando à estória.
A licença poética faz parte da arte, sendo
indissociável. Com ela, reconstruimos realidades através da música, escrita e
produção visual, segundo a capacidade criativa de cada um.
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