Eu
sou triste como um prático de farmácia,
sou
quase tão triste como um homem que usa costeletas.
Passo
o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
mas
só ouço o tectec das máquinas de escrever.
Lá
fora chove e a estátua de Floriano fica linda.
Quantas
meninas pela vida afora!
E
eu alinhando no papel as fortunas dos outros.
Se
eu tivesse estes contos punha a andar
a
roda da imaginação nos caminhos do mundo.
E
os fregueses do Banco
que
não fazem nada com estes contos!
Chocam
outros contos para não fazerem nada com eles.
Também
se o Diretor tivesse a minha imaginação
o
Banco já não existiria mais
e
eu estaria noutro lugar.
Murilo
Mendes
(em:
MENDES, Murilo. Poemas e bumba-meu-poeta. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
p.37)