Ciência & Saúde
Masdar City é uma cidade que está sendo
construída, com algumas etapas já concluídas, nos Emirados Árabes Unidos.
Criada para ser um modelo de cidade sustentável, ela foi construída no meio do
deserto, o que leva a duas correntes de pensamento distintas: como pode ser
sustentável uma cidade que veio do dinheiro do petróleo e que exige muito mais
recursos em condicionamento de ar, irrigação, importação de alimentos... e,
sendo uma cidade ‘sustentável’ no meio do deserto, em outros locais mais favoráveis
também é possível ter iniciativas sustentáveis.
Para financiar tudo, o investimento de US$ 22.000.000.000,00
(vinte e dois bilhões de dólares) veio de recursos cuja origem está na produção
de petróleo, oposta à teoria carbono zero. Pode-se ter um local de emissões
reduzidas, mas não inexistentes.
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[Imagem: E-ARCHITECT] |
Sob o ponto de vista arquitetônico-urbanístico,
o uso de transporte público subterrâneo favoreceu a redução das ruas (onde
veículos não circulam) a espaços mais estreitos, o que diminui, juntamente com
brises e outros elementos, a incidência solar sobre as edificações e melhora
seu desempenho térmico. Observando ventos predominantes e características de
posicionamento, outro aspecto positivo é a orientação direcional das
edificações, com destaque às direções nordeste e sudeste.
Uso de água e energia, pontos importantes em
mais de uma esfera da sustentabilidade, possuem um manejo que envolve muito
controle, com sistemas que podem cortar o fornecimento quando ocorrer algum
desperdício – este é um ponto positivo por influir no fator usuário, mas gera
insatisfação do mesmo: estudantes costumam reclamar da temperatura do sistema
único de ar condicionado. Ocorre o reuso de águas cinzas e negras e a produção
de alimentos se baseia em fazendas verticais. Novamente a dualidade aqui se
apresenta: busca-se produzir localmente, o que reduz impactos com transporte,
mas a disponibilidade de alimentos é restrita e, na produção de novas unidades
de hortaliças, por exemplo, é preciso trazer sementes de outros locais.
Sob o ponto de vista econômico, buscou-se
expandir os benefícios de uma filosofia sustentável por meio de um centro de
referência em tecnologia, com cursos de mestrado no MIST (Extensão masdariana
do MIT). Com isso, vai-se propagar conhecimento na área e ampliar o
desenvolvimento de tecnologias e soluções mais sustentáveis – o que faz com que
a construção de Masdar tenha um alcance maior do que simplesmente sua fronteira
física. Por outro lado, seja por este centro, seja pela própria cidade em si,
gera-se um polo de atratividade de tráfego – pode-se chegar em Masdar por meio
de metrô, mas há outras formas de lá chegar – e isso gera emissões de CO2,
o que também põe em questão a etiqueta de ‘emissão zero’. A valorização
imobiliária interna pode agravar o problema, por ‘expulsar’ a mão-de-obra para
regiões vizinhas.
Em relação ao uso e ocupação do solo, o
projeto foi concebido com movimentação de terras para a geração de galerias
subterrâneas que atendem ao fornecimento de energia, saneamento básico e
transporte. Porém ela se justifica pela redução das áreas de circulação entre
edificações antes mencionada. A acessibilidade aos meios de transporte ficou
garantida por diferentes formas de circulação: veículos elétricos de
passageiros, cargas e metrô subterrâneo. Outro ponto importante é a presença de
áreas verdes, não concentradas em apenas um ponto, mas espalhadas pelo
território, similar às matas ciliares que circundam os rios urbanos. Ainda
assim, alguns pontos não são privilegiados com essas áreas humanizadas, devido
à distância. Existiu a preocupação de usar espécies locais (sic) para reduzir o
consumo de água, o que é um aspecto positivo. Entretanto, por mais que ocorra
reuso de águas e outras técnicas inovadoras, sua origem está em águas
dessalinizadas, com demanda maior de energia e recursos para obtenção.
Masdar é a proposta de cidade sustentável
que já saiu da idealização, é inovadora sob muitos aspectos, mas que peca pela
origem de seus recursos, não se sabendo até que ponto o desenvolvimento local
irá ocorrer e a riqueza ali gerada será capaz de sustentar tamanho aparato
tecnológico, e também pelo próprio local de implantação. Para transformar um
local extremamente quente e carente de todo o tipo de recurso, propiciando
conforto e qualidade de vida, a demanda de recursos é muito grande. E, por diferentes
fatores, os títulos a ela atribuídos servem como estratégia de marketing, pois
não há nada que não gere alguma forma de impacto.
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